quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Uso e tráfico de drogas levam menores ao crime

O número de ocorrências registradas pela Polícia Militar envolvendo crianças e jovens aumentou 79% em 2007 em relação ao ano anterior. O índice saltou de 1.102 em 2006 para 1.976 no ano passado. Isso significa que a quantidade de pessoas nesta faixa etária que cometeram ato infracional pode ser bem maior se for levado em conta que a maior parte dos registros tem mais de uma pessoa envolvida. Do total dos registros mais da metade foram por uso ou tráfico de drogas.

A droga é a principal causa que leva os menores para o mundo do crime. Essa constatação pode ser observada em uma pesquisa da socióloga Simone de Loiola Vieira da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Mais de 50% dos adolescentes entrevistados pela pesquisadora alegaram que entraram para o mundo do crime para sustentar o vício.

Para o promotor da Vara da Infância e Juventude, Epaminondas Costa, o aumento da criminalidade envolvendo menores pode ser também em decorrência de uma melhor atuação das polícias Militar e Civil e também do Poder Judiciário. “A atuação das polícias está mais eficaz. Na verdade, os meninos que vêm aqui são sempre os mesmos. Isso nos leva a crer que há uma identificação maior destes infratores”, ponderou Epaminondas Costa.
Na avaliação do promotor, outro fator que precisa ser levado em conta é a desestruturação das famílias. “Muitos pais têm descuidado dos filhos. Muitas mães vivem sozinhas, trabalham fora e os filhos ficam nas ruas à mercê dos traficantes”, afirma Epaminondas Costa.

A estrutura familiar também foi avaliada no estudo realizado por Simone Loiola. A maior parte, o equivalente a 80% dos adolescentes pesquisados afirmaram que as mulheres são as principais responsáveis pela criação dos filhos.

Para a socióloga Simone Loiola, a tendência é que o número de adolescentes e até mesmo crianças envolvendo-se no crime aumente. Isso porque, segundo Simone Loiola, a sociedade não vê as reais necessidades destes jovens, dando-lhes condições básicas de acesso aos meios de sobrevivência (trabalho que dê dignidade humana); educação e prevenção às drogas. “Na verdade, não é a carência material que tem feito estes jovens atentar contra a ordem, mas sim, o fato de verem alguns poucos usufruindo aquilo que a sociedade demanda como requisito essencial de existência — bens materiais; e eles serem descaracterizados por não fazerem parte deste processo”, opinou Simone Loiola.
Além das estatísticas
Mais do que um dado estatístico, o uso tráfico de drogas destrói crianças, jovens e suas famílias. Aos 9 anos Rodrigo [nome fictício] usou maconha pela primeira vez. O pai, Reinaldo [também nome fictício], percebeu um comportamento estranho no seu filho. E logo percebeu que ele estava envolvido com drogas. Hoje, aos 16 anos, Rodrigo está internado no Centro Sócio-Educativo de Uberlândia (Ceseu), depois que tentou roubar um veículo na avenida João Naves de Ávila. “Começa assim com pequenos delitos em casa e nas casas dos vizinhos até chegar a esse ponto”, conta o pai ao se referir à apreensão do filho.

Pai de três filhos, Reinaldo avalia que não dá para ficar colocando a culpa nos amigos, nas companhias, é preciso assumir e enfrentar o problema de frente. “O primeiro contato geralmente é por curiosidade ou porque o traficante está aí oferecendo. Com o meu menino não é diferente, mas esse negócio de falar que foi o amigo, tem pais que culpam o vizinho, o colega, não é por aí.”

Sem se mostrar desanimado e ainda acreditando na recuperação do filho, Reinaldo lamenta apenas o dano que a droga causa. “Afeta toda a família. È muito duro você ser apontado na rua como sendo o pai de um criminoso, de um usuário de drogas, mas é preciso enfrentar o problema de frente.”

No mês passado, uma família  surpreendeu-se com a apreensão do filho. Quatro jovens de 16 e 17 anos foram apreendidos no bairro Martins sob a acusação de tráfico de drogas, posse de armas e tentativa de homicídio. A tia de um deles disse que nem sabia que o menino estava envolvido com crime. “Em casa ele é uma perfeição, é carinhoso com a gente. No ano passado ele começou com essas ‘coisas’ [delitos].

Eu nem sabia que ele estava mexendo com ‘isso’ [drogas]”, relatou.
Na rotina policial, relatos como este tornam-se corriqueiros. São flagrantes de uma infância tomada pelas drogas que, quase sempre, conforme mostram as ocorrências, desencadeiam uma série de outros delitos.

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