quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Participação de menores no tráfico aumenta 114% na região

Foto: Dise / Divulgação
Foto: Dise / Divulgação
Levantamento realizado pelo órgão da Polícia Civil aponta ainda o crescimento de 835,2% na apreensão de maconha e de 777,7% em crack A Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) divulgou, no final da manhã dessta terça-feira, 13, os dados referentes às apreensões de drogas e prisões de acusados ligados ao tráfico durante todo o período de 2008. Entre as informações mais relevantes do levantamento, está o aumento de 114% no número de menores com participação direta no tráfico de drogas em comparação a 2007. Ao todo, os investigadores da Dise prenderam 11,7% indivíduos a mais (228), contra 204 do ano retrasado. Do número de 2007, apenas 57 eram adolescentes. Agora, do total de presos em 2008, 122 são menores de 18 anos de idade.
“Esse número de jovens presos aumentou porque eles não ficam detidos por muito tempo”, afirmou o delegado responsável pela equipe da Dise, Antônio Seleguin Júnior. De acordo com ele, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) apresenta leis muito brandas em relação às punições para o menor inserido no tráfico de drogas. “Atualmente, precisamos prender por três vezes o adolescente infrator até que ele receba alguma medida sócio-educativa”.
Polêmica
O delegado salienta o fato de ser favorável à redução da idade sobre as responsabilidades criminais do acusado. “Os principais líderes do tráfico de drogas conhecem a lei e, por isso, envolvem cada vez mais menores no mundo do crime. Um adolescente de 16 anos sabe muito bem o que é certo ou errado”.
Neste caso, a sugestão dada por Seleguin é a de que o menor preso ficasse no estabelecimento sócio-educativo adequado no mesmo tempo variável para o adulto recolhido para a Cadeia, ou seja, de 5 a 15 anos.
Apreensões
Os números relacionados às apreensões de drogas realizadas em 2008 são também surpreendentes. O crescimento da maconha retirada do comércio ilegal chegou a 835,2% (318 quilos). Em 2007, foram somente 34 quilos apreendidos. Logo em seguida veio o crack com aumento de 777,7% (39,5 quilos), contra os 4,5 quilos do ano retrasado. Em terceiro lugar, com alta de 348,3% (816 micropontos) está o LCD. No ano de 2007 foram 182 micropontos retirados de circulação.
Por fim, a cocaína ficou em quarto lugar com o crescimento de 32,4% (24,5 quilos) os frascos de lança-perfumes (17) na quinta colocação com aumento de 21,4%. A única droga que registrou queda em 2008 foi o ecstasy: 145 comprimidos em 2008, e 226 em comparação ao mesmo período de 2007, o que representou uma diminuição de 35,8%.
Destaques
Para Seleguin, os dados significativos de apreensões revelam o maior empenho e o entrosamento crescente das equipes de nove policiais investigadores, que revezam em grupos de três a cada dia da semana. Juntos há mais de três anos na sede do órgão da especializada, localizada na Rua Cica, o aprimoramento das diligências foram decisivas para o alcance de resultados expressivos.
“As equipes, sob o comando do investigador-chefe Lira, estão cada vez mais unidas. Além disso, temos contado com o apoio dos juízes da maioria das nove cidades que a Dise abrange na região para a liberação de escutas telefônicas”, comentou.
Com a ampliação das investigações, foi possível desmembrar verdadeiras quadrilhas pertencentes ao tráfico de drogas. A principal delas aconteceu em dezembro do ano passado no Beco Fino, em Jundiaí. Somente lá foi feito o flagrante de 100 quilos de maconha. Outros dois de 80 quilos ocorreram no São Camilo.
Essas quadrilhas pertencem à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e os entorpecentes são, geralmente, procedentes de São Paulo. No caso do Beco Fino, dois jundiaienses foram detidos, assim como o fornecedor da capital paulista. Além disso, membros de uma outra quadrilha de menor expressão, o Comando Revolucionário Brasileiro do Crime (CRBC), de Itatiba, também começaram a ser investigados.

Uso e tráfico de drogas levam menores ao crime

O número de ocorrências registradas pela Polícia Militar envolvendo crianças e jovens aumentou 79% em 2007 em relação ao ano anterior. O índice saltou de 1.102 em 2006 para 1.976 no ano passado. Isso significa que a quantidade de pessoas nesta faixa etária que cometeram ato infracional pode ser bem maior se for levado em conta que a maior parte dos registros tem mais de uma pessoa envolvida. Do total dos registros mais da metade foram por uso ou tráfico de drogas.

A droga é a principal causa que leva os menores para o mundo do crime. Essa constatação pode ser observada em uma pesquisa da socióloga Simone de Loiola Vieira da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Mais de 50% dos adolescentes entrevistados pela pesquisadora alegaram que entraram para o mundo do crime para sustentar o vício.

Para o promotor da Vara da Infância e Juventude, Epaminondas Costa, o aumento da criminalidade envolvendo menores pode ser também em decorrência de uma melhor atuação das polícias Militar e Civil e também do Poder Judiciário. “A atuação das polícias está mais eficaz. Na verdade, os meninos que vêm aqui são sempre os mesmos. Isso nos leva a crer que há uma identificação maior destes infratores”, ponderou Epaminondas Costa.
Na avaliação do promotor, outro fator que precisa ser levado em conta é a desestruturação das famílias. “Muitos pais têm descuidado dos filhos. Muitas mães vivem sozinhas, trabalham fora e os filhos ficam nas ruas à mercê dos traficantes”, afirma Epaminondas Costa.

A estrutura familiar também foi avaliada no estudo realizado por Simone Loiola. A maior parte, o equivalente a 80% dos adolescentes pesquisados afirmaram que as mulheres são as principais responsáveis pela criação dos filhos.

Para a socióloga Simone Loiola, a tendência é que o número de adolescentes e até mesmo crianças envolvendo-se no crime aumente. Isso porque, segundo Simone Loiola, a sociedade não vê as reais necessidades destes jovens, dando-lhes condições básicas de acesso aos meios de sobrevivência (trabalho que dê dignidade humana); educação e prevenção às drogas. “Na verdade, não é a carência material que tem feito estes jovens atentar contra a ordem, mas sim, o fato de verem alguns poucos usufruindo aquilo que a sociedade demanda como requisito essencial de existência — bens materiais; e eles serem descaracterizados por não fazerem parte deste processo”, opinou Simone Loiola.
Além das estatísticas
Mais do que um dado estatístico, o uso tráfico de drogas destrói crianças, jovens e suas famílias. Aos 9 anos Rodrigo [nome fictício] usou maconha pela primeira vez. O pai, Reinaldo [também nome fictício], percebeu um comportamento estranho no seu filho. E logo percebeu que ele estava envolvido com drogas. Hoje, aos 16 anos, Rodrigo está internado no Centro Sócio-Educativo de Uberlândia (Ceseu), depois que tentou roubar um veículo na avenida João Naves de Ávila. “Começa assim com pequenos delitos em casa e nas casas dos vizinhos até chegar a esse ponto”, conta o pai ao se referir à apreensão do filho.

Pai de três filhos, Reinaldo avalia que não dá para ficar colocando a culpa nos amigos, nas companhias, é preciso assumir e enfrentar o problema de frente. “O primeiro contato geralmente é por curiosidade ou porque o traficante está aí oferecendo. Com o meu menino não é diferente, mas esse negócio de falar que foi o amigo, tem pais que culpam o vizinho, o colega, não é por aí.”

Sem se mostrar desanimado e ainda acreditando na recuperação do filho, Reinaldo lamenta apenas o dano que a droga causa. “Afeta toda a família. È muito duro você ser apontado na rua como sendo o pai de um criminoso, de um usuário de drogas, mas é preciso enfrentar o problema de frente.”

No mês passado, uma família  surpreendeu-se com a apreensão do filho. Quatro jovens de 16 e 17 anos foram apreendidos no bairro Martins sob a acusação de tráfico de drogas, posse de armas e tentativa de homicídio. A tia de um deles disse que nem sabia que o menino estava envolvido com crime. “Em casa ele é uma perfeição, é carinhoso com a gente. No ano passado ele começou com essas ‘coisas’ [delitos].

Eu nem sabia que ele estava mexendo com ‘isso’ [drogas]”, relatou.
Na rotina policial, relatos como este tornam-se corriqueiros. São flagrantes de uma infância tomada pelas drogas que, quase sempre, conforme mostram as ocorrências, desencadeiam uma série de outros delitos.